Este artigo problematiza o elenco de questões e de respostas que costumamos formular a respeito dos usos de drogas e propõe outro modo de pensar essas práticas. Sugere-se que já não é mais suficiente indagar por que as pessoas usam drogas? e qual o significado do uso de drogas?, nem se contentar com as respostas que são apresentadas quando essas questões são colocadas, pois elas costumam concluir pelo erro, pela falta ou pela fraqueza. Propõem-se, então, outras questões: o que ocorre em práticas como essas?, que experiência usuários e substâncias realizam?. Conseqüen- temente, propõem-se também outras respostas. Estas novas respostas apon- tam para a existência de eventos as ondas das drogas que envolvem agenciamentos paradoxais de auto-abandono. Propõe-se que o evento onda não resulta de fantasias subjetivas dos usuários, nem de determinações obje- tivas da substância, mas exige modalidades de (in)ação como aquelas pre- sentes no paradoxo da paixão e nos jogos profundos. Sustenta-se que o even- to onda envolve modos singulares de engajamento no mundo, nos quais as substâncias são mediadores indispensáveis. Por fim, sugere-se que, em vez de se indagar quem controla a onda, cabe perguntar se ela ocorre ou não, ou, baseado em Gabriel Tarde, se há ou não alter-ação.
Referências para citação: VARGAS, Eduardo Viana. Uso de drogas: a alter-ação como evento. In; Revista de Antropologia, São Paulo, v. 49, n. 2, Dec. 2006.